Preocupações Sofilescas

Para seu niver de 11 anos a criatura pediu para viver um "Dia do Sim", inspirada no filme de mesmo nome.

A proposta é simples: os pais não podem dizer "não" para os filhos ao longo de um dia inteiro. Aterrorizante, mas simples.

Estipulamos um orçamento e cá estamos na rua, à farra solta.

E já na primeira parada a figura demonstra suas preocupações. Ao pedirmos a conta a mamãe pergunta:

- Pagaremos como?

- No crédito, respondo.

Imediatamente, com os olhos esbugalhados de quem vê o busão arrancar sem estar dentro dele, ela solta:

- Por quêêê? Tá sem dinheiroooo?

Privilégio

Hoje ela enfrentou o Chico pela segunda vez. Segunda vez na vida. Segunda vez em um sítio. Segunda vez com a família ao seu redor.

Da primeira vez, no aniversário do papai. Da segunda vez, aniversário da vovó.

Me parece que o corpo da criaturinha, em suas duas rodadas de vida de mocinha, até agora só se permitiu dar folga aos músculos em ambientes que continham familia e paz.

Que honra a minha estar presente em ambas as ocasiões.

Dando uma de Homer Simpson

Dores do crescimento

Com esse friozinho ela foi lá e pediu um caldo e se sentou na mesinha padrão, daquelas de plástico.

Encurvada para chegar a boca próxima da liquefeita refeição, ela reclama:

- Mamãe, eu cresci muito, tá difícil comer o caldo...

- Leva o caldo próximo da boca que funciona.

Tá aí. É assim que gigantes comem coisas líquidas:

Ispia a pererecagem

Cara de pau que nunca para de surpreender.

Enquanto isso, na volta do passeio no shopping, o diálogo esquenta entre a mamãe e a criatura:

- Não, mamãe, não vou mais ter filho.

- Pode parar, você me prometeu um neto!

- Não quero mais.

- Sabe por que ela diz isso? Porque as amiguinhas na escola estão influenciando, dizendo que estraga o corpo.

- Não, não é por isso!

- É sim!

- Não, não é. É porque criar filho é muito chato. Especialmente quando chegar na aborrescência, assim como eu agora.

Cara de paaaaaaaau!

Tapa no churrasco.

Depois da festa de aniversário do papai, enquanto assávamos alguns espetinhos só pra nós três naquele fim de domingo, conversávamos sobre assuntos mil na varanda da roça.

Com o papo ficando bom, acabamos esquecendo alguns espetos, que esfriaram sob a última prateleira da churrasqueira.

E quem estava pilotando era ela, a aprendiz de gente.

Quando tirou o espeto para comer, a alertamos:

- Filha, tem que dar mais um tapa na carne antes de servir.

- Tá bom.

Quando pensa que não, está lá o espetinho a receber, literalmente, alguns tapinhas pela mão dela.

Ao terminar a sessão ela nos pergunta:

- Assim tá bom ou devo bater mais forte?

Quem disse que alguém dormiu depois disso?