Com muito carinho, explicamos para Sofia que no dia seguinte precisaríamos tirar uma formiguinha do seu braço, que seria rápido, que poderia doer um pouquinho. Mas no fundo sabíamos e nos envergonhávamos da mentira que estávamos contando para nossa filha e para nós mesmos. Nossos sorrisos forçados nos entregariam para um adulto, que perceberia nosso pavor, mas a inocência da doce criança a impediu de perceber nosso verdadeiro sentimento. Fomos dormir já preparando o espírito para a terrível sina que nos aguardava na manhã do dia seguinte.
Quando os primeiros raios do alvorecer tocaram nossos já despertos e preocupados olhares matinais, mamãe e eu tentamos nos alimentar de coragem para o que viria em seguida, afinal nós perfuraríamos a pele da nossa cria, retiraríamos seu sangue ainda naquela manhã!
Nos munimos de brinquedos, livrinhos de historinhas e especialmente muito carinho para amparar a pobre coitada da Sofia, que faria um impiedoso exame de sangue.
Chegando nos portões das masmorras, mais conhecido como laboratório, nosso sangue congelou. Foi preciso um empurrão de coragem para dar mais um passo adentro. A mãe enfrentava os procedimentos de registro e senha, o pai tentava com todas as suas energias levar a atenção da criança para brincadeiras de pega-pega, esconde-esconde e caça ao lobo mau.
Após uma eternidade de espera veio enfim a chamada para a penitência:
- SOFIA CARVALHO PEREIRA!
Sentamo-nos diante da câmara de tortura. Com uma agulha tão grande quanto uma cenoura nas mãos, a carrasca disse em tom enérgico:
- COLOQUE SEU BRAÇO AQUI.
E Sofia, na doce inocência que somente a infância pode proporcionar, cedeu. Já nós, apavorados e sem ter mais o que fazer, engolimos em seco e por alguns instantes percebemos nossos sistemas nervosos paralisarem cada um dos músculos do nosso corpo.
Sem nenhuma piedade daquela inocente criança em sua frente, a torturadora rasgou seu braço com o gigante instrumento de tortura que chama de agulha.
Resultado:
Papai



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