sábado, 4 de junho de 2016

Aprendendo do zero...

Senta que lá vem textão...

Sim, sou machista. E mais, acho provável que você também seja.


Na mídia pouco se fala além da notícia do estupro coletivo do Rio de Janeiro. Junto com este fato, milhares de manifestações feministas tentando evidenciar uma pouco reconhecida “Cultura do Estupro”.

Até pouco tempo eu me considerava um sujeito relativamente esclarecido. Sempre me orgulhei de respeitar as diferenças e as crenças. Tenho amigos e amigas gordos, magros, negros, heterossexuais, homosexuais, feministas, machistas, da esquerda, da direita, evangélicos, ateus, espíritas, enfim... Sempre procurei me policiar para tentar enxergar a alma das pessoas e construir amizades com aquelas dignas e verdadeiras, independente do corpo que está em volta. Eu realmente acreditava ser um cara sem preconceitos.

Pois bem. Recentemente tive uma ideia para um novo negócio. Nesta onda crescente de produtos e serviços vocacionados para homens, entre barbas, barbearias, cervejas e sinucas percebi que existe uma grande oportunidade pela falta de ofertas de presentes para este público. Decidi então abrir o Nobre Caixote e oferecer presentes diferentes para homens. Até aí, nada de mal.



Só que no início o nome não era “Nobre Caixote” e a marca não era essa. Eu defendia que as almas dignas e verdadeiras, as pessoas que se esforçam para fazer do seu espaço um lugar melhor sem ferir o direito do outro, que seguram o boi pelo chifre e honram o fio do bigode, independente de sexo ou sexualidade, mereciam e deveriam ser reconhecidas como as verdadeiras pessoas com atitude de Macho.

Então tive a brilhante ideia de batizar o nosso negócio com o honrado nome “Cestas para Macho” e sem nenhuma dúvida já parti para ação. Registrei um domínio, trabalhei conteúdo, logomarca, visão, missão, estratégia e tudo mais. Estava seguindo confiante para lançar esta marca, com a certeza que daria certo. Mesmo diante da insistente argumentação da minha esposa, que lutava diariamente para tentar me convencer do contrário:

- Essa marca não está boa. Nem de longe lembra a mensagem que você quer passar. Sua intenção é boa, mas neste caminho não vai dar certo.

Até que um dia vi um anúncio na minha timeline, uma nova agência de comunicação estava sendo montada por gente da minha confiança. Não pensei duas vezes. Fui correndo atrás para expor a minha ideia e contratar o serviço para sair gritando minha brilhante mensagem pelos quatro cantos da cidade. Para minha surpresa escutei exatamente a mesma argumentação:

- Essa marca não está boa. Nem de longe lembra a mensagem que você quer passar. Sua intenção é boa, mas neste caminho não vai dar certo.

Então me convenci de que deveria no mínimo escutar. Fiz uma pesquisa entre homens e mulheres para entender o que se entendia por “Verdadeiro Macho”. Dentre as 40 opiniões derrubando categoricamente o velho conceito de macho alfa, 3 opiniões em especial me chamaram a atenção:

"- Verdadeiro macho, é sério isso? Tenho até medo do que vem por aí. No meu vocabulário não existe este adjetivo!"
"- Macho? Este termo não se usa mais..."
"- Nenhum homem jamais será macho como uma mulher o é."

Depois de me recuperar do balde de água congelada caindo direto na minha cabeça eu coloquei as ideias no lugar, fiz mais pesquisas e finalmente fui convencido a abandonar o “brilhante” nome Cestas para Macho junto com todo o planejamento que havia feito.

Ainda assim continuei sendo provocado pelas pessoas que vem me assessorando a refletir sobre a segmentação que escolhi:
- Tome cuidado com o discurso machista, qualquer hora vai aparecer um questionamento na sua página, mesmo cheio de boas intenções, você pode se enrolar...

Mas que diabos!

Foi então que resolvi estudar um pouco sobre o tal do Feminismo, para me preparar para possíveis represálias. Até então, acomodado na minha confortável cadeira de homem, branco, hétero e sem deficiências físicas acreditando que esta história se tratava de mais um “mimimi”. Para mim, homens e mulheres sempre tiveram os mesmos direitos, mas parti para leitura assim mesmo. O problema é que prestei atenção ao conteúdo e tomei conhecimento de alguns fatos que me fizeram refletir um bocado:

Até 1827 as mulheres não podiam estudar no ensino fundamental e até 1879 não podiam cursar faculdade. A primeira médica só veio a se formar em 1887, mas não conseguiu emprego em lugar nenhum, pois ninguém queria se tratar com uma mulher. A primeira advogada só surgiu em 1899. A primeira partida de futebol feminino só ocorreu em 1921, mas em 1964 foi proibido, até que esta decisão foi revogada em 1981. Conquistaram o direito de votar em 1932 e a primeira senadora só veio a ser eleita em 1990. Até 1977 o casamento era para sempre, pois até ali não existia a lei do divórcio.

Estes direitos básicos só foram conquistados na base de muitos protestos das corajosas feministas de cada época. Assim como a atual Marcha das Vadias agora corajosamente protesta de peito aberto pelo direito de serem livres para vestirem o que quiserem sem serem assediadas, assim como nós homens o somos.

Foi então que percebi o quanto sou inegavelmente machista. Ferrenho e fervoroso. Praticamente um ativista!

Percebi o tamanho do absurdo que estava defendendo. Na minha limitada concepção aquelas pessoas de atitude positiva, as almas dignas e verdadeiras, deveriam ter o “privilégio” de serem chamadas de “Macho”.

A partir daí comecei a prestar atenção nas minhas próprias atitudes e nos sinais ao meu redor. Percebi que todas as vezes que minha filha liga a TV no seu desenho preferido, repleto de unicórnios rosas cheios de brilhantes, eu olho de cara torta e penso: “Esse cavalo é égua!”. No dia em que escrevi este texto, cheguei na escolinha da minha filha e vi vários trabalhinhos pendurados no quadro. Os nomes das meninas constavam de folhas rosas, e dos meninos nas folhas azuis. Perguntei para uma das professoras se as cores não deveriam se misturar e a resposta foi que se elas fizerem isso os pais reclamam que os nomes dos filhos homens deles estão em folhas rosas.



Hoje pela manhã minha filha me mostrou este desenho que consta da publicação, dizendo que havia feito para mim. Só que ao me mostrar o desenho ela começou a se justificar:
- Papai, eu desenhei com rosa de menina mas o colorido é com verde de menino, tá?! 

Então eu disse:
- Filha, não precisa se preocupar com as cores. Meninos e meninas podem usar qualquer cor.
E ela devolveu:
- Não papai. Meus coleguinhas disseram que menina não pode usar azul, branco e verde, só podem usar rosa.

Agora, enquanto escrevo este texto e minha filha assiste seus desenhos, apareceu um menino de cabelo grande na tela, ela disse: 
- Alí papai, tem um menino de cabelo grande na televisão. Tem que cortar!

Então eu abri o google e lhe mostrei várias fotos de meninos de cabelo grande e meninas de cabelo curto. Tentei explicar que não tem nada a ver, ela não aceitou minha explicação. Apenas disse que as meninas estavam feias e os meninos deveriam ter seus cabelos cortados.

... minha filha tem apenas 3 anos de idade e isso aconteceu em 04 de Junho de 2016, às 11:00 da matina...



Há poucos dias minha esposa publicou uma tirinha, esta que também consta da publicação, que retrata exatamente a realidade que vivemos aqui em casa todos os dias pela manhã.

Agora voltando para o mundo do feminismo, da Marcha das Vadias, dos peitos abertos e combate à Cultura do Estupro. As mulheres estão lutando arduamente por nada além de direitos iguais, pelo direito de serem quem quiserem, se vestirem como bem entenderem sem que nós, machões e valentões, as assediemos.

Estão lutando pelo direito de não serem estupradas! E percebam que o desafio delas é imenso! Vejam que ainda hoje, em pleno séc XXI, o machismo está impregnado em todos os cantos desde o berço!

É por isso que se surgir algum questionamento feminista sobre a segmentação masculina que escolhi para o Nobre Caixote, ou sobre qualquer equívoco que eu possa cometer nas minhas comunicações, eu não terei o que dizer, pois de fato sou machista há 34 anos.
É por isso, meus amigos, que decidi fazer a minha parte nesta necessária mudança e sugiro que tentem fazer o mesmo.

Não. Não sairei na marcha das vadias, não voltarei a escrever textões por aqui e nem vou ficar enchendo o saco de ninguém. Apenas tentarei escutar os apelos do universo feminista. Apenas tentarei tratar minha esposa, minha filha, minha mãe e todas as mulheres com as quais convivo com mais respeito. Tentarei assumir mais tarefas dentro de casa e educar minha filha dentro de um caminho agora ajustado a esta realidade. Então no futuro, quando minha esposa enfim me disser algo parecido com “Agora sim percebo que somos iguais” talvez eu me permita a honra de ser chamado de feminista.

Papai

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